Saturday, July 14, 2007

Uma Palavra


Questionado a 10 de Julho por um jornalista sobre a identidade da União Europeia, o seu actual presidente José Manuel Barroso respondeu:

"We are a very special construction unique in the history of mankind, sometimes i like to compare the EU as a creation to the organisation of empire. We have the dimension of empire. (...) What we have is the first non-imperial empire. We have 27 countries that fully decided to work together and to pool their sovereignty. I belive it is a great construction and we should be proud of it."

O presidente da comissão europeia escolheu uma palavra muito controversa para descrever a Europa, especialmente porque o numero daqueles que se revê nessa identidade é muito pequeno fora de Bruxelas ou Estrasburgo, ao contrário dos habitantes destas.

A Europa tem de se orgulhar do que fez nos últimos 50 anos em prol da União. Um movimento de base económica garante décadas de paz, desenvolvimento e concórdia entre os povos europeus, porventura a maior experiência de sempre do género na história da humanidade coroada com feitos como a moeda única ou o espaço de circulação comum. Mas a Europa discute por se ver numa encruzilhada.
Essa encruzilhada da Europa não decorrerá da falência do modelo, mas sim de uma série de questões marginais: como atingir uma governação mais eficiente, como ganhar maior protagonismo entre os novos actores globais, e onde estão as fronteiras deste espaço. Pode-se dizer que são questões pretinentes, mas dificilmente essenciais no dia-a-dia das populações nos vários cantos do continente.
A Europa continua numa maratona de cimeiras, encontros e tratados anuais para resolver estas questões. Por um lado é bom, na medida em que os aspectos essenciais da União se mantém como denominador comum e não são colocados em causa. Por outro lado, algumas das soluções preconizadas podem conduzir a um precipício - à criação de uma entidade soberana onde as pessoas não se reconheçam e que se aproprie tanto dos valores positivos anteriores como de valores mais discutíveis como uma "segurança comum" (i.e. exército europeu) ou uma "política externa comum" que dê dimensão política a uma europa economicamente pujante mas que, vítima de um sistema de maioria qualificada, se tenderá a afastar cada vez mais de um maior numero de europeus.
Mete-me sobretudo medo a distância que as vozes de alguns em Bruxelas ganham das realidades dos seus países de origem, como rapidamente aderem a uma "causa europeia" com espírito quase de seita, independentemente dos partidos ou dos países de onde são "eleitas". E as visões messiânicas que alguns começam a levantar, como Barroso, desse império por onde desejam propagar os seus valores favoritos. São vozes e visões que não levam em conta que a construção tem de ser feita das fundações para o telhado, caso contrário poderá ser pelo vento, pelo fogo ou pela água mas por certo se derrubará.

Já deixámos de ver a Europa como uma comunidade para a ver como uma União. Deixaremos de ver a Europa como uma União para a ver como um Império? E teremos nós portugueses uma palavra na tomada desse passo apesar de, por ironia suprema, serem dois portugueses a presidir ás principais instituições europeias?
Como exercício, proponho escolher entre as duas bandeiras seguintes: a direita, bandeira oficial da União Europeia com 12 estrelas; a esquerda, uma bandeira que contém em barras todas as bandeiras de todos os estados membros a exemplo de um código de barras, criada pelo arquitecto holandês Rem Koolhaas. A escolha só pode ser clara, digo, porque a diferença entre as ideias traduzidas numa e noutra são brutais.






No comments: