Tuesday, May 15, 2007

O Senhor Terceira Via



Dez anos depois, à saída, Tony Blair deixa poucas saudades. Aquilo que começou como um mandato cheio de esperança acabou amargo e contestado, mesmo dentro do próprio partido, alguns achando até que deveria ser julgado por crimes de guerra. Mas goste-se ou não se goste deixa um legado insuperável, a terceira via.
Nos anos noventa cá em Portugal, Guterres foi aclamado como o herdeiro cá no burgo da terceira via de Blair. A terceira via era a coqueluche da governação da Europa de então. Sabem o que dizem, que se há algum sítio onde se inova ao nível de governo dos povos essse sítio é a Europa.
Para o bem e para o mal somos nós o tubo de ensaio de modelos governativos que depois são exportados para o resto do mundo. Ora, o novo modelo experimentado a partir dos anos noventa, e que está bem e se recomenda, foi a terceira via. Num contexto ideologicamente bem demarcado, tanto à esquerda como à direita, a terceira via veio trazer o que, na altura se achou uma lufada de ar fresco, libertando-se das partes mais dogmáticas da ideologia em questão para governar mais, digamos, ao centro. É a esquerda light, assim não muito esquerda. Se um jornal inglês ironizou chamando de gémeos siameses Guterres e Durão Barroso, eles também não tinham muito por onde falar tendo como primeiro ministro um Blair tão Thatcher como a senhora Thatcher em questão de sindicatos, salários, condições de trabalho e impostos.
Também na questão da guerra foi Blair terceira via, demarcando-se dos seus congéneres europeus e alinhando, até às últimas consequências, com os Estados Unidos, com os resultados que se viram.
No fundo, o maior legado que Blair deixou foi precisamente esta terceira via, esta maneira de governar em terceira via, nem carne nem peixe, uma espécie de surfismo político em que se apanham as ondas que dão mais jeito e votos. É isso, e não a ideologia, que governa neste momento a Europa. A esquerda perdeu causas e razões com a queda do bloco, a direita deu tal volta ideológica que a reaccionária, porque não se mexe, é agora a esquerda. Blair foi o primeiro desta geração de desenrascados que fazem pela vida e não ligam a promessas e sim à conjuntura. Foi o primeiro, mas não o último. Infelizmente.

1 comment:

Su said...

A política é como as auto-estradas: quanto mais vias, mais acidentes, mais vítimas. A última vítima do Blair foi mesmo a democracia- para quê eleições antecipadas se se pode sempre recorrer à sucessão semi monáquica? Como é que é a expressão? Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara... O Gordon apoia o Tony e o Tony deixa-lhe o poleiro de herança, porque mesmo que só se aguente por uns meses já depois se vai embora com uma pensãozita vitalícia. Não está nada mal e ja se tentou em Portugal também. Quem é que diz que nós somos uns atrasados?

Jinhos

Su